Familiar de Espinho Familiar de Espinho Familiar de Espinho
 
 
O Comércio
do Porto
2004/11/30
Os desafios do III milénio
MUTUALISMO NO SÉCULO XXI
Um exemplo de união no concelho de Espinho
A associação mutualista A Familiar de Espinho foi fundada em 1894 por um pequeno grupo de residentes de Espinho. Inicialmente dedicada à concessão de subsídio de funeral aos associados e familiares, a associação enquadrava-se numa zona piscatória, onde prevalecia o ideal religioso que tornava quase numa obrigação a oferta de um funeral digno aos familiares. Esse constitui o primeiro mote para que a Familiar de Espinho rapidamente alargasse o número de associados. Como recorda José Almeida, director-delegado da entidade, "esta associação foi, em tempos, uma entidade muito fechada, trabalhando quase exclusivamente no concelho de Espinho. A década de 80 foi o período em que assistiu ao maior incremento de associados que se cifra actualmente em 5 mil. Não temos uma faixa etária muito elevada, ao contrário de muitas outras associações, talvez devido ao facto de termos sido pioneiros já há muitos anos na oferta de consultas jurídicas gratuitas aos nossos associados. Depois, através de parcerias celebradas com diversas entidades de Espinho, oferecemos serviços médicos especializados a preços reduzidos, o que acontece também noutra vertente através da parceria com o Health Club de Espinho. Entretanto estamos também em negociações para outras áreas no sentido de oferecer o melhor aos nossos associados. Também temos um serviço de apoio domiciliário resultante de outra parceria que se traduz em assistência de enfermagem a quem necessite, bastando para tal que realize uma chamada telefónica".

Quanto à actual fase que atravessam as mutualidades portuguesas, José Almeida considera que "o movimento mutualista em Portugal está a viver uma tentativa de remodelação face ao advento de novos regimes e surgem, actualmente, novas ideias que vão de encontro à actualização e mudança das associações. Creio que este processo não se encontra ainda devidamente esclarecido pois a informação que chega até nós é vaga. Temos um representante, que é a União das Mutualidades Portuguesas que pretende criar uma federação e, nesse sentido está a convidar todas as associações mutualistas a aderir ao projecto mas, na verdade, ainda não sabemos muito bem o que iremos ganhar – no nosso caso enquanto associação local – com a angariação de associados para a Federação que é quem irá gerir os fundos e os associados", sustenta.

Conhecendo-se as raízes seculares que sustentam o movimento mutualista em Portugal, poder-se-á aventar com alguma legitimidade que, face às previsíveis dificuldades que assolarão, no futuro, os actuais moldes em que assenta o regime de Segurança Social, as associações mutualistas poderão vir a constituir uma alternativa viável, algo já indiciado, aliás, no novo enquadramento. Uma visão partilhada por José Almeida, que acrescenta que "mesmo antes de existir a Segurança Social em Portugal, já existiam as mutualidades", ressalvando que "a Segurança Social veio sobrepor-se ao mutualismo e veio dar aquilo que as mutualidades já ofereciam aos seus associados". Como salienta José Almeida, "temos essas raízes históricas, continuamos a mantê-las… é claro que os tempos mudam, as necessidades das pessoas são outras, umas preparam-se melhor do que outras mas creio que a maioria pode não estar preparada para essa alteração. O mutualismo está hoje com projectos, a Familiar de Espinho está a pensar criar um equipamento social que albergará um lar de idosos com apoio domiciliário, possivelmente também um pavilhão e um local destinado a pessoas em fase terminal. Pensamos que será uma ideia maravilhosa que resultará de uma parceria com outra instituição, visando assim dar um forte contributo, quer a Espinho, quer ao próprio mutualismo". Sabendo-se que as mutualidades não escaparam à tão propalada crise económica, "cada vez são menos os novos associados", constata José Almeida, ressalvando, no entanto, que a situação financeira da "Familiar de Espinho é sustentável. Na zona onde estamos inseridos não temos as carências que existem noutras zonas, pois aqui existe uma considerável oferta ao nível de clínicas médicas, um hospital, um centro de saúde jardins de infância ou de salas de estudo e também não faria sentido estarmos a fazer concorrência nestas valências".

CP – Sabendo que uma associação mutualista presta um serviço social junto da comunidade onde se insere, existe algum apoio por parte do Estado ou da autarquia para o exercício da vossa actividade?
José Almeida – Nós desde sempre vivemos com as quotizações dos nossos associados. Temos um rendimento proveniente do arrendamento do prédio onde estamos sedeados, que é nosso mas nunca tivemos outro tipo de apoio. Na vertente social, os nossos associados pagam quotas e, quem tem direitos, também tem deveres. Fazemos parte da Rede Social de Espinho mas, no fundo, aquela vertente social de ofertas à população não é propriamente da nossa competência pois não somos uma IPSS nem uma instituição de caridade. Aquilo que temos pertence aos associados da Familiar de Espinho.

CP – Numa altura em que se fala da possibilidade de as pessoas passarem a descontar para as mútuas em detrimento da Segurança Social, que vantagem enumeraria para potenciais novos associados?
José Almeida – Confesso que essa questão ainda me suscita alguma dúvidas pois sabe-se que as companhias de seguros já o fazem e, mesmo assim, o Estado ainda não sabe muito bem o que há-de fazer com a Segurança Social, se mantê-la ou privatizá-la. Por outro lado, há milhões de pessoas que descontam há vários anos para a Segurança Social e que merecem a garantia de que quando precisarem terão o benefício resultante do pagamento que efectuaram.

António Sérgio - Espinho
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