Familiar de Espinho Familiar de Espinho Familiar de Espinho
 
 
Defesa de
Espinho
1994/02/17
Uma Centenária que pretende apostar na juventude.
José Almeida, o secretário da actual direcção, traçou-nos os objectivos desta associação de socorros mútuos que, apesar da sua longevidade, continua a constituir uma incógnita para uma grande parte da população: Somos uma instituição particualar de solidariedade social que apoia os seus sócios em diversas vertentes. Actualmente, limitámo-nos a fornecer um subsídio de funeral, mas é nossa intenção abranger, muito brevemente, a área da saúde.

Contando actualmente com 4500 associados, a Familiar de Espinho pretende dinamizar a sua acção, agora que completou cem anos de existência: Temos plena consciência de que precisámos proceder a algumas mudanças radicais, mas não é de um dia para o outro que isso é feito. Julgo que estamos no bom caminho.

A associação tem acordos firmados com algumas casas comerciais da cidade os quais permitem aos seus membros beneficiar da redução de preços em diversos produtos. No entanto, José Almeida crê que serão necessários outros incentivos para cativar os jovens: Temos o exemplo de associações que têm vindo a experimentar actividades destinadas a jovens. Sem utopias, vamos tentar ocupar uma parte dos tempos livres à juventude da nossa cidade. No âmbito deste projecto, José Almeida afiançou-nos que o desporto pode constituir a fórmula necessária para aproximar os jovens da associação. Por esse facto, a organização de torneios desportivos está a ser seriamente encarada, tal como sucede noutros núcleos mutualistas espalhados pelo país.

A quota mensal cifra-se em 200 escudos, sendo que, seis meses após a entrada na instituição, o asociado já tem direito ao subsídio de funeral. Esse auxílio pecuniário poderá variar entre os vinte e os sessenta mil escudos, consoante o grau de parentesco com a vítima.

Nas palavras do secretário da Familiar de Espinho, a grande vantagem usufruída pelo sócio consiste na participação da vida mutualista, ou seja, saber que está a contribuir para a solidariedade social. No fim de contas, a quantia desembolsada pelos associados acaba sempre por ser reavida.

"Somos constantemente esquecidos pela Câmara"

Na altura da sua criação, a Familiar de Espinho propunha-se subsidiar e auxiliar os seus membros na assistência médica e medicamento, subsídios de funeral, desemprego e prisão. Cem anos passados, José Almeida julga que a associação tem de adaptar-se forçosamente aos tempos, sem desvirtuar, contudo, os seus princípios fundamentais:

No século passado, o espírito das pessoas era totalmente diferente. A população unia-se em torno das dificuldades no sentido de solucionar os problemas. Hoje, as pessoas encontram-se mais fechadas.Habituadas a conviver com a adversidade, as associações de socorros mútuos tentam, agora, dar um novo rumo à sua existência: O mutualismo atravessa uma fase deveras positiva. Após alguns anos de letargia, em que as associações não souberam adaptar-se da melhor forma às mudanças verificadas na sociedade, assiste-se hoje à plena consciencialização do papel que deve ser desempenhado pelos mutualistas.

O nosso entrevistado considera que a criação do seguro social obrigatório pelo Estado, em 1935, abalou as associações da altura originando o desaparecimento da maioria delas: Há sessenta anos atrás, o Estado português considerou que os cidadãos deveriam obrigatoriamente ter uma protecção permanente na doença, invalidez, velhice e morte. Por isso, foi criado o seguro social obrigatório. Essa legislação veio condicionar a actuação das associações, visto que foram impedidas de continuar a prestar cuidados médicos .

Não foi de estranhar, pois, a descida drástica do número de associações: das 527 inicialmente existentes, subsistem actualmente apenas 125. Porém, um tanto paradoxalmente, o número de associados nutualistas no País inteiro ascende em 1994, aos 609 mil, quando, há sessenta anos atrás se ficava pelos 590 mil. Para José Almeida, o mistério pode ser facilmente desvendado: as associações uniram-se, alteraram a sua estrutura, isto é adaptaram-se aos tempos. Por via disso, a desão das pessoas aumentou significativamente e as associações viram o seu protagonismo aumentar. Reportando-se à instituição que pertence, José Almeida relembrou que, na altura, as dificuldades foram enormes, mas conseguiram sobreviver com muito custo: A Familiar de Espinho chegou a entrar em decadência, só que os espinhenses uniram-se, evitando o seu desaparecimento. Nos últimos tempos, temos registado uma subida acentuada do número de associados, o que indicia ema maior divulgação dos valores do mutualismo.

O papel de segurança social na protecção dos cidadãos é severamente criticado pelo secretário da Familiar de Espinho: Nós não pretendemos substituir ninguém, só que é bom que se diga que a segurança social não cumpre a sua missão eficazmente. Aliás, nas reuniões que temos tido com os responsáveis daquela entidade, eles não se cansam de enaltecer o papel desempenhado por estas associações.

Apesar de estarem forçados a sobreviver com as quotas mensais dos seus associados, os dirigentes da Familiar de Espinho não têm encontrado grandes dificuldades para gerir a associação: A nossa situação financeira é perfeitamente desafogada, visto que recusamos embarcar em loucuras. Até ver, as quotas vão sendo suficientes para continuarmos a cumprir a missão, mas não temops possibilidades de investir em novos projectos, como desejaríamos.

Contudo, a colaboração com os sucessivos elencos camarários deixa muito a desejar, segundo as palavras daquela fonte da direcção: Às vezes tenho a sensação que somos marginalizados pelos autarcas, já que os nossos colegas de Gaia e do Porto recebem um apoio efectivo das respectivas Câmaras.

No entanto, o esquecimento a que somos constantemente votados vem dignificar ainda mais o nosso trabalho.


Sérgio Almeida
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